quinta-feira, 24 de maio de 2012

Carta ao torcedor

Querido torcedor: Você é CHATO PARA CARALEO.

Nada pessoal. E nem quero que você me leve a mal. Já fui torcedora como você um dia. Ia em estádio, sabia os nomes de jogadores, quantos títulos o meu time tinha, quantos ainda faltava conquistar. Só falava disso. Hoje não acompanho mais nada e sabe? Minha vida não mudou pi-cas. Quer dizer, deixei de ser chata e inconveniente como você. Talvez tenha adquirido outras chatices (com certeza adquiri outras chatices) e, sem sombra de dúvidas, estou bem mais ranzinza do que antes. Mas nada relacionado (idade, talvez? abafa!).

Enfim, o que eu quero dizer é que você não é chato como aquele tio / cunhado que faz a piada do pavê-ou-pácomê todos os natais desde 1985. Você é chato como aquela criança que, quando estamos conversando, fica puxando nosso rosto pro lado e dizendo: "Olha! Olha! Olha aqui! Olha aqui!". Nós, que não acompanhamos ou sequer gostamos do esporte, temos outros assuntos. E aí estamos conversando e cuidando da nossa vida e lá vem você: "Olha! Olha! Olha meu time! Olha meu time! Olha meu time! Meu time é melhor que o seu! Meu time vai ganhar! Meu time ganhou!".

Meu, foda-se. EFE O DE A HÍFEN ESSE E. FODA-SE. Ninguém tá interessado. Ninguém quer saber se seu time vence ou deixa de vencer. Ninguém tá nem aí se o jogador X tá arrebentando em campo. Só você e os seus. E nessa você se torna a pessoa mais insuportável da face da Terra. E a troco de quê? De nada. Explico: suponha que quando você nasceu seu time tivesse quatro taças. Hoje, quinze, vinte ou trinta e tantos anos depois, seu time conseguiu mais uma e agora tem cinco. O que isso contribuiu com a sua vida? Você foi ajudado com o dever de casa quando estava na escola? Eles pagaram seus estudos? Te deram casa quando você resolveu casar? Pagaram sua festa? Pagam suas contas? Pois é. A única diferença disso na sua vida é que hoje, com cinco taças, você é mais chato do que ontem quando tinha quatro e certamente menos chato que amanhã quando tiver seis. 

Ou se não tiver nenhuma. 

Porque agora o lance é gritar aos quatro ventos que vibra com seu time na alegria e na tristeza. Ganhou? Maravilha! Perdeu? Maravilha também! Mentira. Men-ti-ra. Ninguém fica feliz quando o time perde. E aí você começa a anunciar ("Olha! Olha! Olh...") que o seu time "perdeu, sim", mas que você "não se importa porque o importante mesmo é torcer pra ele" (keep telling yourself that, son) e, assim, "todas as outras pessoas têm inveja de você". Porra, velho, não. A gente te acha mesmo é um completíssimo idiota. Não um idiota porque tava torcendo pelo seu time, mas um idiota que só fala disso o tempo inteiro, que sai por aí quebrando coisas, matando pessoas e fazendo algazarra pela rua enquanto tantas outras pessoas de bem precisam dormir pra trabalhar no dia seguinte.

Aliás, um parêntese aqui: não estou dizendo que não se deve torcer para nenhum time ou que o futebol deveria deixar de existir (mesmo porque, se não existisse o futebol, você arranjaria outro esporte, não é mesmo? A chatice é relacionada ao fanatismo da pessoa e não ao evento. Já acontece até com escolas de samba! Nossa sorte é que, nesse caso, é só uma vez por ano). Continuando, acho legal essa vibração toda que acontece no estádio, nos bares, nas casas de quem se reúne pra tomar uma cerveja e assistir à partida. Mas veja bem: estádio, bar, casa. Juntou a galera pra ver o jogo? Muito que bem. Mesmo você desrespeitando o silêncio alheio e gritando até meia noite, que é mais ou menos a hora que acaba o jogo (obrigada, Rede Globo! ;-)) a gente tolera (veja, tolera). O foda é você permanecer gritando madrugada afora. O foda é vocês, torcedores, brigarem entre si a ponto de se matarem ou matar alguém que tava ali no lugar errado na hora errada. O foda é vocês saírem pela rua destruindo estabelecimentos comerciais. O foda é ter que te aguentar falando disso on and on and on and on... Pior de tudo: não somente na vida real, mas na virtual também. Você, com esse papo constante e monotemático, transforma o facebook num suplício. E aí a gente vai lá e cancela a opção de receber suas atualizações, porque né. Só que aí é que tá. Qual o motivo de fazer parte de uma rede social quando você não socializa com quase metade dos seus amigos? (essa rende um super post, hein! Aguardem inspirações). No meu caso, na verdade, acho que só acompanho um terço  deles e olhe lá. Primeiro foram os religiosos. Depois os engajados - tanto os de verdade, com suas fotos de bichos mortos, como os pseudo, com suas frases sem sentido e suas fotos de gente doente (Hello, facebook! Cinco centavos por compartilhamento? Miserê, hein!). Depois as tia e suas fotinhos a lá email de power point. Depois as recalcadas ("Não me quer? Perdeu! A fila anda"). E agora você. Sentiu o drama?

Preciso ser mais tolerante? Talvez. Venho até trabalhando isso comigo mesma há algum tempo. 

Mas, porra, você podia colaborar também, né?


PS: Proliferem-se, porém, deixem sua prole fora disso tudo. Não há coisa mais ri-dí-cu-la do que um bebê com macacão de time ou uma criança gritando num estádio (ou na TV, como vocês tanto orgulham-se em mostrar). Os coitados não têm nem noção do porquê daquilo tudo e apenas imitam os seus gestos, achando lindo ser como o pai. Aliás, quer saber? Não se proliferem. Melhor.