sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Jeremy spoke in class today

"Aluno de 10 anos atira na professora e se mata em seguida"

Assim que eu vi essa notícia, imediatamente lembrei de Jeremy, do Pearl Jam. Sempre achei essa música meio sombria, apesar do som agitado e dos ótimos, diga-se de passagem, riffs de guitarra e baixo.

Não sei os outros, mas eu tenho uma certa tendência a avaliar as letras das músicas. Fico tentando imaginar de onde o artista tirou a inspiração pra escrever aquilo e o que será que deve ter passado pela cabeça dele pra realizar aquela composição. Gosto de interpretar, algumas me emocionam, outras me deixam com raiva, outras me deixam revoltada... legal isso.

Meu caso com Jeremy foi exatamente assim, exceto pela diferença de que eu já sabia sobre o que se tratava. O que sempre me deixou perplexa nesse caso foi ficar imaginando o que é que deve se passar na cabeça de um adolescente pra levá-lo ao ponto de se matar, especialmente na frente de todos os colegas de classe.

Ok, tratando-se do Jeremy deles, já é sabido que ele era meio quieto, deslocado, provavelmente sofria bullying (vamo aproveitar que tá na moda o termo, né, minha gente) e era negligenciado pelos pais e fez isso como uma forma de se vingar de todos que o maltratavam ou sequer ligavam pra sua existência. Não vejo como isso possa ser considerado uma forma de vingança (se bem que, para os referidos colegas de classe, viver com uma imagem dessas na cabeça realmente deve ser um martírio). Acho que aí devo concordar com o próprio Eddie Vedder, que deu uma entrevista na época, dizendo que a verdadeira vingança do menino seria ele ter seguido em frente e se tornado uma pessoa de sucesso. Realmente esfregar seu sucesso na cara dos outros é uma delícia, mas talvez melhor ainda fosse viver sabendo que você proporcionou uma imagem que ficará assombrando e atormentando a memória de todos que te zuaram por toda a eternidade. Uma pena que ele não viveu pra saber disso.

Do nosso Jeremy ainda não se é sabido muita coisa, apenas que ele pegou a arma do pai, que é da Guarda Municipal, levou pra escola e, no meio da tarde,  atirou contra a professora e depois se matou com um (dois?) tiro(s) na cabeça. Achei muito creepy isso. Não o fato de ele ter se matado ali no meio de todo mundo (que, obviamente, já é totalmente creepy por si só), mas a premeditação é que me gela a espinha. Os momentos entre o "vou fazer" e o "a hora é agora", manja? Fico pensando no grau de perturbação mental dessa criança (sim, uma criança) pra levá-lo ao ponto extremo de arquitetar - e executar - um plano desses. E não digo perturbação mental no modo pejorativo. O que quero dizer é a agonia, o desespero, a intensidade de sentimentos. E a coragem. Porque, sim, é preciso muita coragem pra tomar uma decisão desse tipo, tanto de atirar no outro quanto a atirar em si mesmo. Digo até que talvez seja preciso crescer a terceira bola do saco pro cara conseguir fazer uma coisa dessas. E esse menininho mal saco tem (tinha). O desespero é tamanho e a avalanche de sentimentos é tão, putz, overwhelming, devastadora, que o cara não deve pensar nem por um segundo nas consequências e nas mudanças que causará na vida, não só de seus familiares, mas dos familiares dos outros envolvidos, dos que estavam lá na hora, dos que o conheciam de vista. King Jeremy, the wicked, ruled his world. 

Ontem eu tava comentando isso com a minha mãe e lembrando de quando eu tinha 10 / 11 anos. Eu brincava de boneca (pouco, mas ainda brincava), eu era pirada no New Kids on The Block, colecionava figurinhas do Campeonato Brasileiro, colecionava fotos de atores / cantores que eu achava bonitos, curtia lá meus discos de rock, gravava meus clipes da MTV e do Clip Trip pra ficar assistindo em loops infinitos. Sei lá, cara. Nunca sequer me passou pela cabeça fazer uma coisa dessas com quem quer que fosse, muito menos comigo mesma. Eu me cago de medo de morrer. Morro de medo de, sei lá, quando a gente morrer tudo acabar e a gente sumir e nada que vivemos ter tido um propósito. Morro de medo de morrer e depois acordar em algum outro lugar com aquela saudade avassaladora de todos que eu amo. Sem contar que eu também morro de medo de sentir dor. Nem na faculdade, quando precisava fazer aqueles furinhos no canto do próprio dedo pra fazer exame de sangue eu tinha coragem. Imagina dar um tiro em mim mesma. Jamais.

A imprensa agora vai falar disso até esgotar tudo o que possa ser passível de comentário. Já começou ontem, com brados aos sete ventos de que é preciso melhorar a segurança nas escolas, é preciso colocar detector de metais, é preciso revistar mochilas, é preciso isso, é preciso aquilo... Realmente a educação está doente. Não só o setor educação - esse sim se resolve com segurança e detector de metais - mas aquela educação de pai e mãe, que a gente traz de casa, sabe? Os valores morais estão doentes. As pessoas estão psicologicamente doentes e esquecidas e ninguém percebe isso. E o mais assustador é que o nosso Jeremy está aí pra provar que a doença já está começando a assolar as crianças também. Não é normal uma criança levar uma arma pra escola. Mas menos normal ainda é passar pela cabeça de uma criança dar um tiro na professora e depois se matar. Isso deve ser tratado. Sem isso, pode-se ter 1, 3, 20 armas em casa e nada acontecerá. Facas são armas, cadeiras são armas, vasos são armas, garfos são armas, mãos são armas - nossas casas estão cheias de armas - e nem por isso todos nós saímos nos matando a torto e a direito. Não há como pensar num mundo melhor, numa sociedade melhor, sem antes curar as pessoas. Infelizmente. E o pior de tudo isso é que, como na música de Jack Johnson, we all got the blood on our hands, todos temos sangue nas mãos, e só cabe a nós mudar a situação, ao invés de continuar passando a responsabilidade de um para o outro. 

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